quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Saci


O Saci é um personagem brasileiro mitológico que habita o imaginário popular brasileiro principalmente no interior do país onde ainda se mantém o hábito dos mais velhos, de contarem histórias aos mais jovens nas tranqüilas e claras noites de lua.

Ele possui apenas uma perna, usa um gorro vermelho e sempre está com um cachimbo na boca. Inicialmente, o saci era retratado como um curumim endiabrado, com duas pernas, cor morena, além de possuir um rabo típico.

Acredita-se que tenha sua origem na cultura de povos indígenas da região Sul do Brasil. Entre os guaranis, havia a história de um ser mágico que podia ficar invisível. É representado desde a época colonial como um garoto indígena de cor morena, pernas defeituosas e que por isso, manquitolava. Sua missão era viver no bosque, protegendo a mata e a flora contra os caçadores e predadores. Seu nome é Cambay, daí surgiu o termo “cambaio” pra todo aquele que é manco.

No Sul e Sudeste há algumas variações. No Rio Grande do Sul, por exemplo, ele é retratado como um menino negro perneta de gorro vermelho que se diverte atormentando a vida dos caminhoneiros e aventureiros que gostam de viajar. Deixando-os areados ele os faz perder o destino. 

Ranços culturais europeus podem ter influenciado o Saci em Minas Gerais onde ganhou acessórios como: “um bastão, laço ou cinto, que usa como a "vara de condão" das fadas européias” (site: http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/3contos/saci.html).

Já em São Paulo, apesar de manter essas mesmas características básicas ele possui um boné em lugar do gorro.

Segundo a crença popular os Sacis vivem setenta e sete anos e se originam do bambu. Após sete anos de “gestação” dentro do gomo do bambu ele sai para uma longa vida de travessuras e quando morre se metamorfoseia em cogumelos venenosos ou em “orelhas de pau”. Quem é do interior ou já foi ao campo a passeio deve ter visto alguma vez, uma espécie de cogumelo que se forma nos troncos das árvores e que se parece com uma orelha. É isso que os matutos chamam de “orelha de pau”.

O Saci Pererê possui um assovio muito estridente que não permite a ninguém localizar o local onde ele está na hora que está assoviando, e segundo a lenda este ser é responsável por manusear todas as ervas medicinais, figurando também como o guardião da sabedoria sobre as técnicas de preparo dos variados remédios caseiros.

A alcunha pela qual o Saci é mais popularmente conhecido é Saci-Pererê, mas seu nome originalmente era Yaci-Yaterê de origem Tupi Guarani. De acordo com a região do Brasil ele pode, porém, ser conhecido por uma variedade de apelidos.

O dicionário Aurélio traz as seguintes variações de nomes do Saci: “Saci-cererê, Saci-pererê, Matimpererê, Martim-pererê”(AURÉLIO, 2005). Além dessas denominações Martos e Aguiar (2001, p. 75) apontam ainda: “saci-saçura, saci-sarerê, saci-siriri, saci-tapererê ou saci-trique”. Por ser considerado por alguns um perito na arte da transformação em aves, o negrinho travesso recebe ainda nomes de passarinhos nos quais se transforma, como por exemplo: matitaperê, matintapereira, sem-fim, entre outros (ibidem, p. 75). Na região às margens do Rio São Francisco ele é conhecido pela alcunha de Romão ou Romãozinho.
Saci: malvado ou apenas peralta?

Entre todas essas características uma é unânime: sua personalidade travessa. Algumas pessoas acreditam que ele é mau outros dizem que ele é apenas um garoto traquino que adora fazer pequenas travessuras, mas sem o intuito de fazer o mal, apenas de se divertir. Seja como for diz a lenda que ele é muito peralta. Adora assustar os animais, prendê-los, criar situações embaraçosas para as pessoas, esconder objetos, derrubar e quebrar as coisas, entre outras danações.

Diz a lenda que ele não é apenas um brincalhão ou um espírito mau. Tratar-se-ia de um exímio conhecedor das propriedades medicinais das ervas e raízes da floresta. Se alguém precisa entrar na mata e pegar algo, portanto, tem que pedir autorização do Saci, pois entrando sem permissão cairá inevitavelmente em suas armadilhas.
Como escapar do Saci?

Algumas pessoas afirmam que o único meio de driblar o negrinho é espalhando cordas ou barbantes amarrados pelo caminho. Assim ele se ocuparia em desatar os nós, dando tempo da pessoa fugir de sua perseguição. O Saci também tem medo de córregos e riachos, por isso, atravessar um pode ser uma alternativa, pois o Saci não consegue fazer a travessia.

Mas o único meio de controlar um Saci, segundo o mito, é tirando-lhe o gorro e prendendo-o em uma garrafa. Para isso é necessário jogar uma peneira ou um rosário bento em um redemoinho. Só dessa forma se pega um Saci. Uma vez preso e sem o gorro que lhe dá poderes ele fará tudo que for mandado.

As principais características

Apesar das inúmeras definições dessa famosa entidade folclórica algumas características são mais presentes e recorrentes nas descrições do Saci. Sabe-se que em geral:

- é um ser que vive nas matas;
- é extremamente misterioso;
- é negro, pequeno e possui apenas uma perna;
- usa um capuz vermelho e um cachimbo;
- não possui pêlos no corpo;
- não possui órgãos para urinar ou defecar;
- só tem três dedos em cada mão;
- possui as mãos perfuradas;
- adora assoviar e ficar invisível;
- vive com os joelhos machucados, resultado das travessuras;
- tem o domínio dos insetos que atormentam o homem: mosquitos, pernilongos, pulgas, etc.;
- fuma em um pito e solta fumaça pelos olhos;
- adora fazer travessuras;
- pode, em momentos de bom humor ajudar a encontrar coisas perdidas;
- gira em torno de si feito um pião e provoca redemoinhos;
- pode ser malvado e perigoso;
- adora encantar as criancinhas faze-las perder-se na mata;

Graças à criatividade de escritores brasileiros como: Maurício de Souza, Monteiro Lobato e Ziraldo, esse personagem viajou do campo para as grandes metrópoles e até mesmo para o exterior através de suas obras.

Monteiro Lobato, escritor conhecido do público infantil, foi o primeiro a lembrar o Saci. Nas décadas de 1970 e 1980 o personagem apareceu nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo e o personagem ficou conhecido em todo o País. Este é, talvez, o escritor que mais difundiu esse personagem, primeiro através da obra escrita e depois através da obra televisionada, que hoje tem alcance internacional, levando nosso personagem ao conhecimento do mundo.

Maurício de Souza, criador da turma da Mônica, também incluiu o Saci nas suas histórias em quadrinho, principalmente nas do personagem Chico Bento, que é um matuto da roça. Outro que imortalizou o Saci em sua obra foi Ziraldo com a criação da turma do Pererê, que também alcançou as telas da televisão.

Além do impulso dado pela literatura, outro fato importante foi a criação, em 2005, pelo governo brasileiro, do dia nacional do Saci, que deve ser comemorado dia 31 de outubro. Essa idéia surgiu com o intuito de minimizar a importância que se dá à comemoração do dia das bruxas, reduzindo assim, a influência de culturas importadas e favorecendo a valorização da cultura e do folclore nacionais.

Referências e maiores informações:

http://www.infoescola.com/folclore/a-lenda-do-saci-perere/
http://www.brasilescola.com/folclore/saci-perere.htm
http://www.camaleao.org/noticias/31-de-outubro-saci-perere-ou-halloween-doces-ou-travessuras/
http://www.belasdicas.com/saci-perere/



quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A história real das bonecas


Você sabia que elas nem sempre foram brinquedos?

As tevês e revistas estão cheias de anúncios de novas bonecas, enchendo de brilho os olhos de muitas crianças – isso é fácil saber. Agora, o que pouca gente sabe é que as bonecas nem sempre foram brinquedos!


A Vênus de Willendorf, encontrada nas cavernas da Áustria, foi feita provavelmente há 30 mil anos (Imagens cedidas pela autora)


As bonecas existem há milhares de anos, desde os tempos das cavernas. E, no começo de sua história, elas não serviam para brincar. Tinham, quase sempre, uma função religiosa, só podendo ser manuseadas por sacerdotes e curandeiros.
Elas estiveram presentes em todas as civilizações do passado. Em cavernas pré-históricas de diversas partes do mundo, foram encontradas pequenas bonecas esculpidas em pedra. Os cientistas as chamaram de Vênus (deusa grega que simboliza a fertilidade), pois os estudos revelaram que essas bonecas eram utilizadas em rituais que “preparavam” as mulheres para a gravidez e em cerimônias religiosas.
Ao longo da história, as bonecas acompanham o desenvolvimento do homem e de suas civilizações. Os egípcios, por exemplo, faziam bonecas de terracota, uma argila modelada e cozida no forno. Elas eram chamadas ushtbs, mediam entre 10 e 23 centímetros e costumavam ser colocadas nos túmulos dos faraós.
Na Grécia antiga, as bonecas tinham outras funções. As jovens costumavam oferecê-las às deusas na época de seu casamento, na esperança de ter filhos. É possível que o hábito de brincar de boneca tenha derivado dessas primeiras figuras religiosas, relacionadas à fertilidade feminina.


Boneca de madeira fabricada no início do século 18. Seu corpo é articulado, para permitir imitar movimentos humanos como andar e sentar


Entre os romanos, era tradição celebrar, junto com as homenagens ao deus Saturno (símbolo do tempo), em dezembro, festas particulares em que bonecas eram dadas de presente. Em maio, quando o deus Lares (que protegia as casas) era festejado, erguiam-se altares com essas imagens.
Bom, se as civilizações antigas usavam as bonecas para fins religiosos, quando será que elas começaram a servir para brincar? Hummm… Há um mistério nessa história!
Em Herculano, cidade do império romano destruída por uma erupção do vulcão Vesúvio no ano 79 de nossa era, foi encontrado, totalmente preservado pela lava, o corpo de uma menina abraçada à sua boneca.
No sarcófago da imperatriz Maria, esposa do imperador romano Honórius, morta no século 3 de nossa era, cientistas encontraram uma boneca do tamanho de uma Barbie, toda articulada. Ela tinha um enxoval e joias feitas sob medida, do mesmo jeito que a boneca moderna. Seria um brinquedo ou mais um objeto religioso?


Menina e bebê feitos de biscuit. Os traços, tão delicados, lembram a nossa pele!


A dúvida persiste, mas sabemos que, no século 18, quando as indústrias começaram a se multiplicar pela Europa, as bonecas se popularizaram como brinquedos infantis. Desde então, vários materiais foram usados para fabricá-las, como madeira, louça, biscuit, plástico, borracha…
De qualquer forma, uma coisa é certa: as bonecas já garantiram – e vão garantir – muitas tardes de brincadeiras entre as crianças de todo o mundo!
(Esta é uma reedição do texto publicado na CHC 100)