domingo, 2 de junho de 2013

Obra de duplicação da Tamoios revela sítio arqueológico

Escavações feitas durante a obra de duplicação da rodovia dos Tamoios, no Vale do Paraíba (SP), revelaram vestígios da presença de índios de tradição cultural aratu, que habitaram o país entre os séculos 10 e 14.
São milhares de peças de cerâmica --como fragmentos de potes, tigelas e urnas funerárias-- e ferramentas de pedra lascada, espalhadas por uma área de 5.000 m2 na altura do km 28 da estrada, em Paraibuna (124 km de SP).
Pela quantidade de material encontrado, em um ponto que era cortado pelo rio Paraíba do Sul --desviado para a construção da usina de Paraibuna--, supõe-se que havia uma grande aldeia no local, com centenas de pessoas.
Para a equipe envolvida nos trabalhos, a descoberta ajuda a montar o quebra-cabeça da ocupação humana nesta região de São Paulo, onde a tradição tupi-guarani sempre foi mais comum.
"A descoberta confirma a presença dos aratus no Vale do Paraíba e a importância do Paraíba do Sul para a população ao longo das gerações", diz o arqueólogo Wagner Bornal, contratado pela Dersa (estatal de estradas de São Paulo) para o trabalho.
Até então, havia apenas dois outros sítios com vestígios dos aratus na região: em Santa Branca (95 km de SP) e em Caçapava (116 km de SP).
Ceramistas e agricultores, os aratus viveram antes da colonização portuguesa, sobretudo no Nordeste. Não há consenso sobre o que levou ao desaparecimento de sua cultura --a hipótese mais provável é que eles tenham se mesclado com outras etnias.
Os primeiros estudos que identificaram essa cultura foram publicados no final da década de 1960.
Considerada "mãe" da arqueologia amazônica, Betty Meggers (1921-2012), e o marido, Clifford Evans (1920-1981), encontraram 24 sítios aratus no Recôncavo Baiano.
Hoje há registro de vestígios dessa cultura no Nordeste e nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo, onde o sítio Tamoios 1 é o mais recente.
Os índios dessa tradição viviam nas imediações de cursos de água perenes. Cultivavam milho, feijão, mandioca e amendoim. Também trabalhavam o algodão. A cerâmica produzida por eles era alisada, sem traços decorativos.
Também usavam grandes potes como urnas funerárias, material encontrado em abundância no sítio na Tamoios --muitas peças praticamente na superfície, sob apenas 40 cm de terra.
O local está fechado para pesquisas. Os arqueólogos querem transformá-lo em sítio-escola para visitas monitoradas, proposta que ainda será analisada.
"O sítio tem um potencial informativo e científico, pois ajuda a completar uma lacuna sobre a ocupação do Vale do Paraíba", afirma Bornal.
Segundo a Dersa, o sítio não sofrerá impacto das obras da Tamoios. A descoberta foi reconhecida pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e o material será catalogado e disponibilizado ao público.



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