sábado, 9 de fevereiro de 2013

Era uma casa muito engraçada


Ela foi tão incompreendida pelos moradores de Curitiba dos anos 1930, que os vizinhos chegaram a juntar dinheiro para dar a Frederico Kirchgässner. O objetivo? Dar à casa que o arquiteto edificara a decência de um telhado grande e inclinado. A verdade é que aquela residência da Rua Jaime Reis, no Centro, como afirmou o arquiteto Irã Dudeque em seu livro Espirais de Madeira, não parecia suficientemente séria aos olhos dos curitibanos. Uma casa sem telhado, apenas com laje e com pórticos emoldurando paisagens, só podia ser obra de alguém maluco. É que a provinciana Curitiba não tinha ideia do que era o modernismo que já aflorava na arquitetura europeia e tinha brotado na Semana de Arte Moderna em São Paulo. Em verdade, o modernismo por aqui, depois de Kirchgäsnner, só chegou lá pelos anos 50 e 60. 

A relação que a população manteve com a obra foi bizarra. A porta de vidro com as duas janelinhas pequenas ao lado, que tinham o formato de uma cruz, fizeram com que os pedestres passassem se bezendo por ali, acreditando estar diante de uma igreja. Não tardou para que o alemão, indignado, transformasse a porta em janela e mudasse a entrada principal da casa para a lateral. “Várias pessoas paravam diante da obra em construção para perguntar o que era aquilo e aconselhavam que era uma estupidez investir dinheiro numa obra de aspecto tão medonho”, escreve Irã. Houve quem recomendasse a Kirchgässner um carpinteiro para resolver o problema da falta de telhado. 

Ao mesmo tempo em que a casa assustava, a população também não se continha diante da curiosidade de saber o que havia no interior. É de se imaginar a reação dos curitibanos – que geralmente tinham a latrina, de madeira, nos fundos da residência – ao receber a notícia de que a casa de Kirchgässner dispunha de um banheiro ao lado do quarto do casal. Com um detalhe: tinha até banheira e armários embutidos, algo impensável para a época. “Quando fui estudante do Colégio Estadual do Paraná, anos depois de a casa ser construída, meus colegas pediam todos os dias para ir lá e conhecer o banheiro. A curiosidade ainda persistia”, conta Arwed, o filho mais velho de Frederico, herdeiro da casa modernista. 

Residência pode virar casa-museu 

Não há arquiteto que se preze que não tenha ouvido falar ou visitado a casa Kirchgässner, localizada nas esquinas das Ruas Jaime Reis e Portugal, no Alto São Francisco. É uma referência isolada do modernismo em Curitiba nos anos 1930. O lugar lembra muito a casa do poeta chileno Pablo Neruda, outro inspirador modernista. Apesar de mais conhecida e muito visitada (está aberta ao público em geral), a casa Chascona de Neruda, que fica em Santiago, no Chilem, foi construída em 1953, bem mais tarde que a de Kirchgässner. As coincidências não param por aí. O alemão também adorava poesia e foi, a partir delas, que ele pintou diversos quadros com ares surrealistas. 

A residência modernista de Curitiba, pioneira deste tipo na cidade, hoje é mantida pelo herdeiro Arwed, que tira do bolso o dinheiro que precisa para reparos. Por fora, ela sofre com a violência de Curitiba: está toda pichada e a cerca elétrica precisa ser revisada, porque ora ou outra é cortada. Por dentro, há pequenas infiltrações e alguns cupins que atacaram as escadas de madeira. Desde que a mãe, Hilda, se foi e deixou a casa vazia, em 1999, Arwed mantém a residência intacta e limpa. “Só não pinto mais por fora porque não sei o que fazer com tanta pichação”, lamenta. 

O filho de Frederico, porém, anda com novas ideias e resolveu entregar a casa às mãos da arquiteta e restauradora Giceli Portela para que a residência possa ser restaurada e, quem sabe, vire uma casa-museu. “Ela só tem sentido do jeito que está, toda montada, com os móveis projetados por Kirchgässner. Será um sonho abri-la ao público”, diz Giceli. Hoje a residência é uma UIP (Unidade de Interesse de Preservação). A venda do potencial construtivo dela, porém, não seria suficiente para restaurar tudo. Por isso, Giceli entrou com um pedido na prefeitura para transformá-la em UIEP (Unidade de Interesse Especial de Preservação) – a venda do potencial, desta maneira, seria calculado em cima do custo do restauro, o que garantiria a recuperação integral do imóvel. 

“A prefeitura tem interesse em ver esta casa restaurada. Não há mais impedimentos para transformá-la em UIEP”, explica Ana Márcia Gonzalez, da comissão de avaliação do patrimônio cultural de Curitiba. 

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Chiquinha Gonzaga


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Mary Leakey nasceu há cem anos

        
           Arqueóloga, antropóloga e aventureira, Mary Leakey nasceu há 100 anos, em Londres. Uma das cientistas mais importantes do século XX, lançou preciosas luzes sobre as origens do ser humano. Destacou-se com a descoberta do primeiro fóssil do esqueleto de procônsul, um primata que poderá ser antepassado dos hominídeos.
           Ficou também conhecida pelas suas escavações, juntamente com o seu marido Louis Leakey, na garganta de Olduvai (Tanzânia) e por ter desenvolvido um sistema de classificação dos instrumentos de pedra lá encontrados, a primeira indústria lítica dos hominídeos do período Paleolítico Inferior.Foi também ela que descobriu as pegadas de hominídeo que se tornaram conhecidas como pegadas de Laetoli.
Mary Leakey, que morreu no Quênia com 83 anos, era filha do pintor paisagista Erskine Edward Nicol e de Cecília Marion Nicol. Devido ao ofício do pai, viajou muito durante a infância, tendo a família acabado por se instalar em França.
Com apenas 12 anos, começou a escavar uma gruta perto do sítio onde morava. O seu interesse pela Pré-História foi crescendo. Começou a colccionar e a desenhar objetos pré-históricos, criando também sistemas de classificação.
Em 1932, o seu trabalho como ilustradora chamou a atenção da arqueóloga Gertrude Caton–Thompson, que a convidou para a acompanhar nas suas escavações. Como ilustradora e arqueóloga amadora, participou em diversas expedições, numa das quais conheceu Louis Leakey.
O casal teve três filhos, que passaram a maior parte da infância em sítios arqueológicos. Em 1960, Mary tornou-se diretora das escavações na garganta de Olduvai. Com a morte do marido, em 1972, Mary e os filhos não deixaram o interesse pela arqueologia. Mary Leakey, que dizia sentir-se melhor numa tenda do que numa casa, trabalhou incansavelmente até uma idade avançada.
Quando morreu, em 1996, era uma paleoantropóloga reconhecida tanto pelos seus trabalhos de investigação, como pelo contributo que deu à carreira do marido e dos filhos. Um deles, Richard Leakey, é atualmente um conceituado paleoantropólogo.
Na homenagem que a Google faz hoje à investigadora (num doodle), podem ver-se os seus animais de estimação – dois dálmatas – a acompanharem-na na descoberta das pegadas de Laetoli.

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