Quartel que, durante a Revolução de 1924,
serviu como base operacional do general Cândido Rondon, combatente da coluna
socialista de Luiz Carlos Prestes.
Já pela década de 50, cinemas pipocavam
em Curitiba, em diversas vias, ao passo que no mesmo período afloram os
primeiros shopping centers nos Estados Unidos. No Brasil, a novidade só chegou
16 anos mais tarde, em São Paulo.
Alheios à agitação no estado vizinho, a
estação ferroviária, a metalúrgica e os soldados do quartel se destacavam
naquela cidade com 360 mil habitantes. E a modernização chegava: uma
rodoferroviária estava sendo erguida. A estação, que se tornara um cartão de
visitas de Curitiba, estava com os dias contados.
Durante a ditadura militar, a Metalúrgica
Mueller viveu seus tempos áureos, com uma linha de 3 mil produtos e mais de 500
funcionários. Volta e meia o despertar da sirene da fábrica sincronizava com o
marchar dos soldados no quartel do Exército. Enquanto isso, as locomotivas
insistiam em transitar por trilhos quase abandonados.
Em 1972, quando as linhas férreas já
atrapalhavam o fluxo dos automóveis, a estação foi desativada. Não tardou para
que o sonho do suíço Mueller virasse pesadelo. Em 1979, a metalúrgica teve de
sair do Centro por determinação de um plano diretor que proibia fábricas na
região.
O “futuro” começava a dar sua cara em
Curitiba. Com o espaço vendido, a metalúrgica que movimentava a cidade se
transformou no primeiro shopping da capital, em 1983. Enquanto a população
conferia a novidade, a estação já se encontrava praticamente abandonada. Apenas
um museu, instalado em 1982, tentava manter viva aquela memória. A poucas
quadras dali, soldados mantinham a rotina militar e conviviam com rumores de
que o quartel seria vendido.
O boato virou realidade. No final da
década de 80, o prédio foi vendido pelo Exército e, em 1996, o edifício
transformou-se no Shopping Curitiba. Nessa época, a Estação passava por obras
de revitalização e, no ano seguinte, seguiu o mesmo caminho da antiga
metalúrgica Mueller e do então quartel: virou shopping.
Características arquitetônicas são as
mesmas
A transformação dos espaços históricos em
centros comerciais obrigou a preservação de algumas características
arquitetônicas. Para o historiador Marcelo Sutil, da Casa da Memória de
Curitiba, os espaços precisam estar em uso para não sofrerem degradações com o
tempo. “Mas deve ser um uso com critérios que preservem suas características.
Não se pode matar por completo espaços como esses”, salienta.
A arquiteta Yumi Yamawaki diz que os três
prédios possuem relação afetiva com a identidade e a história da cidade. “São
símbolos do município e devem ser preservados da melhor maneira possível”, diz.
Ela exemplifica ainda que, durante as décadas de 70 a 90, quando o prédio da
Estação ficou praticamente inutilizado, toda a área do entorno foi degrada. “Se
o espaço está em desuso, toda região é afetada”, diz.
A área que abriga o museu ferroviário do
Shopping Estação é tombada pelo Patrimônio Histórico do estado. Já os espaços
dos shoppings Mueller e Curitiba são unidade de interesse de preservação (Uips)
para o município. Isso permite à prefeitura estabelecer normas de preservação
que impedem qualquer alteração na fachada. No caso do shopping Curitiba, um dos
pátios internos (Largo Curitiba), que antes abrigava uma praça do quartel,
também foi preservado.
“O Shopping Mueller é o mais
descaracterizado dos três, apesar de a fachada ser mantida”, constata Yumi.
Segundo ela, o Estação é o que mais conserva características originais.
Para a diretora do documentário Curityba
– Sinais do Tempo, os shoppings Curitiba e Mueller deveriam criar um espaço
dedicado à memória dos prédios. “Todos poderiam abrigar um pequeno museu em
referência ao passado”.
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