sábado, 18 de maio de 2013

Três histórias e um destino


Quartel que, durante a Revolução de 1924, serviu como base operacional do general Cândido Rondon, combatente da coluna socialista de Luiz Carlos Prestes.
Já pela década de 50, cinemas pipocavam em Curitiba, em diversas vias, ao passo que no mesmo período afloram os primeiros shopping centers nos Estados Unidos. No Brasil, a novidade só chegou 16 anos mais tarde, em São Paulo.
Alheios à agitação no estado vizinho, a estação ferroviária, a metalúrgica e os soldados do quartel se destacavam naquela cidade com 360 mil habitantes. E a modernização chegava: uma rodoferroviária estava sendo erguida. A estação, que se tornara um cartão de visitas de Curitiba, estava com os dias contados.
Durante a ditadura militar, a Metalúrgica Mueller viveu seus tempos áureos, com uma linha de 3 mil produtos e mais de 500 funcionários. Volta e meia o despertar da sirene da fábrica sincronizava com o marchar dos soldados no quartel do Exército. Enquanto isso, as locomotivas insistiam em transitar por trilhos quase abandonados.
Em 1972, quando as linhas férreas já atrapalhavam o fluxo dos automóveis, a estação foi desativada. Não tardou para que o sonho do suíço Mueller virasse pesadelo. Em 1979, a metalúrgica teve de sair do Centro por determinação de um plano diretor que proibia fábricas na região.
O “futuro” começava a dar sua cara em Curitiba. Com o espaço vendido, a metalúrgica que movimentava a cidade se transformou no primeiro shopping da capital, em 1983. Enquanto a população conferia a novidade, a estação já se encontrava praticamente abandonada. Apenas um museu, instalado em 1982, tentava manter viva aquela memória. A poucas quadras dali, soldados mantinham a rotina militar e conviviam com rumores de que o quartel seria vendido.
O boato virou realidade. No final da década de 80, o prédio foi vendido pelo Exército e, em 1996, o edifício transformou-se no Shopping Curitiba. Nessa época, a Estação passava por obras de revitalização e, no ano seguinte, seguiu o mesmo caminho da antiga metalúrgica Mueller e do então quartel: virou shopping.
Características arquitetônicas são as mesmas
A transformação dos espaços históricos em centros comerciais obrigou a preservação de algumas características arquitetônicas. Para o historiador Marcelo Sutil, da Casa da Memória de Curitiba, os espaços precisam estar em uso para não sofrerem degradações com o tempo. “Mas deve ser um uso com critérios que preservem suas características. Não se pode matar por completo espaços como esses”, salienta.
A arquiteta Yumi Yamawaki diz que os três prédios possuem relação afetiva com a identidade e a história da cidade. “São símbolos do município e devem ser preservados da melhor maneira possível”, diz. Ela exemplifica ainda que, durante as décadas de 70 a 90, quando o prédio da Estação ficou praticamente inutilizado, toda a área do entorno foi degrada. “Se o espaço está em desuso, toda região é afetada”, diz.
A área que abriga o museu ferroviário do Shopping Estação é tombada pelo Patrimônio Histórico do estado. Já os espaços dos shoppings Mueller e Curitiba são unidade de interesse de preservação (Uips) para o município. Isso permite à prefeitura estabelecer normas de preservação que impedem qualquer alteração na fachada. No caso do shopping Curitiba, um dos pátios internos (Largo Curitiba), que antes abrigava uma praça do quartel, também foi preservado.
“O Shopping Mueller é o mais descaracterizado dos três, apesar de a fachada ser mantida”, constata Yumi. Segundo ela, o Estação é o que mais conserva características originais.
Para a diretora do documentário Curityba – Sinais do Tempo, os shoppings Curitiba e Mueller deveriam criar um espaço dedicado à memória dos prédios. “Todos poderiam abrigar um pequeno museu em referência ao passado”.
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