A menos que você se esconda em uma oca, desconectado do
resto do mundo, no meio da Amazônia, não vai escapar de ouvir falar sobre meio
ambiente, Rio+20 e desenvolvimento sustentável. Tais assuntos já vêm dominando
o noticiário nos últimos dias, mas nesta semana o debate será ainda mais
enfático, com a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) chegando à
reta final no Rio de Janeiro. E para não fazer feio nas conversas no elevador,
na escola ou com os colegas de trabalho, a Gazeta do Povo preparou um “guia
básico de sobrevivência”. Do que trata a Rio+20, quais os principais temas
debatidos e que tipo de relações eles têm com a sua vida são algumas das
informações essenciais para garantir um bom papo ambiental. Acompanhe abaixo:
Que tal explicar, de uma forma
bem simples, o que está sendo discutido na Rio+20?
• Conceitos
O evento que
ocorre no Rio de Janeiro não é só sobre meio ambiente. A conferência trata de
desenvolvimento sustentável, que envolve também aspectos sociais e econômicos.
Saber isso é essencial para acompanhar, mesmo que de longe, a Rio+20.
Desenvolvimento sustentável significa, em linhas gerais, garantir as
necessidades da população atual sem comprometer os recursos naturais e o meio
ambiente a ponto de colocar em risco a qualidade de vida das gerações futuras.
O desafio é repensar a utilização e desenvolver novas tecnologias e formas de
aproveitamento dos recursos. O termo foi usado pela primeira vez em 1987, antes
mesmo da Eco92 – evento da ONU que aconteceu no Rio de Janeiro há duas décadas
e serve de referência para a Rio+20.
Economia verde
Um modelo de
estímulo à economia, gerando mais empregos “verdes” e preservando o meio
ambiente. Essa é uma explicação simplificada do que representa o conceito de
economia verde. Contudo, o assunto é tão complexo que, apesar de ser um dos
eixos principais na Rio+20, ele ainda nem sequer foi definido teoricamente no
documento oficial da conferência. Durante várias horas, representantes dos
países-membros da ONU debateram sobre uma definição para o termo e, na
sexta-feira, acabaram desistindo. A discussão deve ser retomada durante a
próxima semana.
Governança
A capacidade de
organizar instituições fortes para colocar em prática os objetivos
estabelecidos durante a conferência é outro tema central da Rio+20. O Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) não possui autonomia, dinheiro
e força de pressão como outras estruturas da ONU, tal qual a Organização
Mundial do Comércio (OMC), que conta com instrumentos efetivos para forçar os
países a cumprirem regras e compromissos.
• Discussões
Ações para
diminuir o impacto humano nas mudanças climáticas ou formas de preservação da
floresta amazônica não são temas centrais na Rio+20: esses assuntos são
debatidos, principalmente nos chamados eventos paralelos, mas são outras
questões relacionadas diretamente à economia verde e ao desenvolvimento
sustentável que estão mais em foco. Um exemplo é a discussão sobre uma nova
forma de mensurar a riqueza de um país. A ONU defende que usar apenas o modelo
atual de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) é equivocado. Primeiramente,
porque a métrica não leva em conta a que custo ambiental aquele suposto
crescimento foi conseguido. E também porque um país pode ser considerado mais
rico se usa os recursos com responsabilidade e preservando-os para o futuro.
A transferência
de tecnologias para os países mais pobres – para que conseguissem gerar mais
empregos “verdes” – é outro tema polêmico. A produção de energia renovável e
menos poluente, formas de acesso à água potável, incentivos à agricultura
sustentável e garantias de segurança alimentar também estão no centro do
debate, assim como mecanismos para preservar os oceanos e a biodiversidade
(conjunto variado de espécies animais e vegetais).
Negociação
Um documento com
diretrizes sobre todos esses assuntos está sendo discutido há cinco meses. A
última etapa da conferência é o chamado segmento de alto nível, que acontece
nos dias 20, 21 e 22 de junho, quando representantes e chefes de Estado vão
assinar um compromisso declarando que concordam em tomar atitudes para defender
o desenvolvimento sustentável. Algumas decisões devem ser efetivamente tomadas
na Rio+20, mas a tendência é de que o evento seja uma espécie de momento para
estabelecer regras de como tais assuntos serão tratados ao longo dos próximos
anos.
• E eu com isso?
Não é só
desligando a torneira enquanto escova os dentes que uma pessoa vai salvar o
planeta. A produção de uma xícara de café consome 10 mil litros de água –
provavelmente mais do que você conseguiria poupar durante toda a vida sendo
econômico no momento da higiene bucal. Para garantir que as próximas gerações
vão dispor dos recursos naturais necessários para a vida é preciso que seja
adotado um conjunto de atitudes – umas mais simples, como economizar água na
sua casa, e outras mais complexas, como definir novas normas para desenvolver a
produção de bens de consumo no mundo.
O primeiro passo
é entender que tudo está relacionado. Há conexões que são mais perceptíveis –
como jogar lixo em locais inapropriados e sofrer com inundações – e outras que
dependem de uma sequência de situações. O uso de produtos químicos que matam
abelhas, que são polinizadoras, pode prejudicar a agricultura e deixar muito
gente sem ter o que comer. Mesmo que você more a vários quilômetros do mar,
pode ser afetado pela subida do nível dos oceanos ou mesmo pela poluição que
mata seres marinhos minúsculos responsáveis pela maior parte da “limpeza” do ar
no mundo.
Dói no bolso
Para alguns, as
questões ambientais só serão levadas a sério quando doerem muito no bolso. E
isso está cada vez mais perto de acontecer. Captar água cada vez mais longe ou
ter de usar mais processos para tratá-la terão um custo na conta que chega à
sua casa. Em Nova York, foi preciso recorrer a uma fonte de água potável mais
distante e os moradores estão pagando os donos das áreas de mananciais para
preservar a região – para que a despesa não aumente ainda mais no futuro. O
problema é que, quanto mais caro os produtos ficarem, mais deve ampliar a
desigualdade social – aumentando as distâncias entre quem pode e quem não pode
pagar.
Disponível na Gazeta do
Povo:
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