domingo, 17 de junho de 2012

Guia para falar com os amigos sobre a Rio+20


A menos que você se esconda em uma oca, desconectado do resto do mundo, no meio da Amazônia, não vai escapar de ouvir falar sobre meio ambiente, Rio+20 e desenvolvimento sustentável. Tais assuntos já vêm dominando o noticiário nos últimos dias, mas nesta semana o debate será ainda mais enfático, com a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) chegando à reta final no Rio de Janeiro. E para não fazer feio nas conversas no elevador, na escola ou com os colegas de trabalho, a Gazeta do Povo preparou um “guia básico de sobrevivência”. Do que trata a Rio+20, quais os principais temas debatidos e que tipo de relações eles têm com a sua vida são algumas das informações essenciais para garantir um bom papo ambiental. Acompanhe abaixo:
Que tal explicar, de uma forma bem simples, o que está sendo discutido na Rio+20?
• Conceitos
O evento que ocorre no Rio de Janeiro não é só sobre meio ambiente. A conferência trata de desenvolvimento sustentável, que envolve também aspectos sociais e econô­­micos. Saber isso é essencial­­ para acompanhar, mesmo que de longe, a Rio+20. Desenvolvimento sustentável significa, em linhas gerais, garantir as necessidades da população atual sem comprometer os recursos naturais e o meio ambiente a ponto de colocar em risco a qualidade de vida das gerações futuras. O desafio é repensar a utilização e desenvolver novas tecnologias e formas de aproveitamento dos recursos. O termo foi usado pela primeira vez em 1987, antes mesmo da Eco92 – evento da ONU que aconteceu no Rio de Janeiro há duas décadas e serve de referência para a Rio+20.
Economia verde
Um modelo de estímulo à economia, gerando mais empregos “verdes” e preservando o meio ambiente. Essa é uma explicação simplificada do que representa o conceito de economia verde. Contudo, o assunto é tão complexo que, apesar de ser um dos eixos principais na Rio+20, ele ainda nem sequer foi definido teoricamente no documento oficial da conferência. Durante várias horas, representantes dos países-membros da ONU debateram sobre uma definição para o termo e, na sexta-feira, acabaram desistindo. A discussão deve ser retomada durante a próxima semana.
Governança
A capacidade de organizar instituições fortes para colocar em prática os objetivos estabelecidos durante a conferência é outro tema central da Rio+20. O Programa das Na­­ções Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) não possui autonomia, dinheiro e for­­ça de pressão como outras estruturas da ONU, tal qual a Organização Mundial do Comércio (OMC), que conta com instrumentos efetivos para forçar os países a cumprirem regras e compromissos.
• Discussões
Ações para diminuir o impacto humano nas mudanças climáticas ou formas de preservação da floresta amazônica não são temas centrais na Rio+20: esses assuntos são debatidos, principalmente nos chamados eventos paralelos, mas são outras questões relacionadas diretamente à economia verde e ao desenvolvimento sustentável que estão mais em foco. Um exemplo é a discussão sobre uma nova forma de mensurar a riqueza de um país. A ONU defende que usar apenas o modelo atual de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) é equivocado. Primeiramente, porque a métrica não leva em conta a que custo ambiental aquele suposto crescimento foi conseguido. E também porque um país pode ser considerado mais rico se usa os recursos com responsabilidade e preservando-os para o futuro.
A transferência de tecnologias para os países mais pobres – para que conseguissem gerar mais empregos “verdes” – é outro tema polêmico. A produção de energia renovável e menos poluente, formas de acesso à água potável, incentivos à agricultura sustentável e garantias de segurança alimentar também estão no centro do debate, assim como mecanismos para preservar os oceanos e a biodiversidade (conjunto variado de espécies animais e vegetais).
Negociação
Um documento com diretrizes sobre todos esses assuntos está sendo discutido há cinco meses. A última etapa da conferência é o chamado segmento de alto nível, que acontece nos dias 20, 21 e 22 de junho, quando representantes e chefes de Estado vão assinar um compromisso declarando que concordam em tomar atitudes para defender o desenvolvimento sustentável. Algumas decisões devem ser efetivamente tomadas na Rio+20, mas a tendência é de que o evento seja uma espécie de momento para estabelecer regras de como tais assuntos serão tratados ao longo dos próximos anos.
• E eu com isso?
Não é só desligando a torneira enquanto escova os dentes que uma pessoa vai salvar o planeta. A produção de uma xícara de café consome 10 mil litros de água – provavelmente mais do que você conseguiria poupar durante toda a vida sendo econômico no momento da higiene bucal. Para garantir que as próximas gerações vão dispor dos recursos naturais necessários para a vida é preciso que seja adotado um conjunto de atitudes – umas mais simples, como economizar água na sua casa, e outras mais complexas, como definir novas normas para desenvolver a produção de bens de consumo no mundo.
O primeiro passo é entender que tudo está relacionado. Há conexões que são mais perceptíveis – como jogar lixo em locais inapropriados e sofrer com inundações – e outras que dependem de uma sequência de situações. O uso de produtos químicos que matam abelhas, que são polinizadoras, pode prejudicar a agricultura e deixar muito gente sem ter o que comer. Mesmo que você more a vários quilômetros do mar, pode ser afetado pela subida do nível dos oceanos ou mesmo pela poluição que mata seres marinhos minúsculos responsáveis pela maior parte da “limpeza” do ar no mundo.
Dói no bolso
Para alguns, as questões ambientais só serão levadas a sério quando doerem muito no bolso. E isso está cada vez mais perto de acontecer. Captar água cada vez mais longe ou ter de usar mais processos para tratá-la terão um custo na conta que chega à sua casa. Em Nova York, foi preciso recorrer a uma fonte de água potável mais distante e os moradores estão pagando os donos das áreas de mananciais para preservar a região – para que a despesa não aumente ainda mais no futuro. O problema é que, quanto mais caro os produtos ficarem, mais deve ampliar a desigualdade social – aumentando as distâncias entre quem pode e quem não pode pagar.
Disponível na Gazeta do Povo:

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