Palestinos que trabalham legalmente em cidades israelenses, em
breve, não poderão mais utilizar os mesmos ônibus que cidadãos do país. O
Ministério de Transporte de Israel anunciou a criação de linhas de veículos
específicas para os residentes da Cisjordânia que cobrem o trajeto de Tel Aviv
até os postos de controle da fronteira com o território palestino.
A decisão veio
após crescentes reclamações de colonos judeus sobre a presença dos palestinos
em ônibus públicos. Os colonos reclamam que a segurança está ameaçada pela
presença dos palestinos, e exigem que eles sejam devidamente revistadas antes
de embarcar no veículo.
De acordo com o
plano, citado pelo site de notícias israelense Walla News, as linhas já
existentes vão entrar diretamente nos assentamentos judeus na Cisjordânia sem a
necessidade de parar nos postos de controle, onde embarcavam os palestinos.
Enquanto isso, os novos ônibus terão de passar pela inspeção das Forças de
Defesa de Israel no posto de Samaria, na fronteira com o território palestino.
Os veículos vão partir nos horários de saída e entrada desses trabalhadores.
O prefeito do
assentamento Kernei Shomron, comemorou a resolução do Ministério de
Transportes. “Estou muito contente, porque ambas as necessidades foram
atendidas, tanto dos trabalhadores palestinos, que querem simplesmente levar
uma vida decente, quanto dos colonos, que querem voltar às suas casas com
segurança, sem o medo de ataques nos ônibus”, disse.
“Nós recebemos
reclamações há muito tempo de residentes (dos assentamentos) e líderes
municipais sobre os palestinos voltando de seus trabalhos em
linhas regulares de ônibus, voltando sem passar por um posto de segurança”,
informou a delegacia policial de Judea e Samaria citada pelo Walla News.
Terroristas
e macacos
O prefeito do
assentamento Ariel anunciou em sua página no Facebook que já havia se reunido
com as Forças Armadas, a Polícia e o Ministério de Transporte para “impedir os
palestinos de embarcar nos ônibus que vão para Ariel”. Muitos residentes
deixaram comentários em seu post, caracterizando os palestinos de “terroristas”
e “macacos”.
“Nas linhas de
Ariel, tem mais terroristas que colonos judeus”, escreveu um deles. Outro
afirmou que não conseguia visitar os parentes que vivem no assentamento porque
estava muito assustada para entrar nos ônibus. “Finalmente, vocês se lembraram
que nós temos ônibus repletos de árabes?”, questionou outro.
Expulsões
diárias
Embora a medida
ainda não tenha sido implementada, os palestinos já encontram dificuldade para
embarcar nos ônibus. De acordo com apuração do jornal israelense Haaretz,
oficiais de Israel começaram a expulsar esses trabalhadores em resposta às
exigências dos cidadãos do país.
No início de
novembro, a polícia israelense expulsou todos os passageiros palestinos de um
ônibus, obrigando-os a andar por quilômetros até o próximo posto de controle
das Forças de Defesa e pagar por um taxi até suas casas. “Os oficiais
confiscaram seus documentos de identidade e levaram esses documentos para o
posto de controle”, explicou um reservista ao Haaretz.
“Meus amigos que
trabalham no posto de controle contaram que a mesma coisa aconteceu no outro
dia”, acrescentou ele. Segundo reportagem do Walla News, motoristas da
companhia Afikim não permitem a entrada dos palestinos em seus veículos.
Apartheid
e dia-a-dia
O número de
palestinos trabalhando legalmente em Israel cresceu nos últimos anos, atingindo
a marca de 29 mil pessoas por dia. Esses trabalhadores moram em cidades
palestinas na Cisjordânia e têm de passar por postos de controle das Forças de
Defesa de Israel para conseguir entrar na cidade israelense, apesar de
possuírem visto de entrada.
As únicas linhas
de ônibus disponíveis para esse trajeto saem dos assentamentos judeus na
Cisjordânia, que foram anexados ao território de Israel e que não admitem a
entrada de palestinos sem autorização especial. Os trabalhadores embarcam nos
veículos no meio de estradas depois de terem passado pela inspeção dos
oficiais.
Durante a época
do apartheid, o regime da África do Sul também criou linhas de ônibus separadas
para os residentes negros.
(Opera Mundi)
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