Por Rainer Sousa
Quando nos metemos em
algum tipo de infortúnio são várias as palavras utilizadas para expressar
o nosso desespero ou infelicidade. Muitas vezes, o desejo de exteriorizar a
infelicidade causada pela situação, nos leva a utilizar muitas palavras que nem
imaginamos a sua origem e significado. Talvez esse seja o caso da palavra
“encrenca”, que de tão corrente em nosso vocabulário cotidiano, acabou até mesmo se
transformando em verbo.
Nesse contexto de transformação e instabilidade, vemos que muitas
famílias de judeus pobres da Europa ainda sofriam com as primeiras ondas
antissemitas. Em alguns casos, essas famílias entregavam as suas filhas para
agenciadores que lhes prometiam arranjar um bom casamento com um rico
comerciante que prosperava em terras americanas. Tomados pelo desespero, muitos
chefes de família acabavam deixando se levar por essas enganosas promessas.
Em muitos casos, já
durante a viagem, essas jovens
descobriam que estavam sendo contrabandeadas como escravas sexuais em
diferentes cidades do continente americano. Chegando ao Brasil, essas
prostitutas judias ficaram conhecidas como “polacas” e, mediante à sua
recorrência, integraram a vida e o imaginário de vários bairros que compunham a
vida noturna carioca e paulista.
Naturalmente, essas mulheres sofreram uma enorme discriminação por conta da posição marginalizada que ocupavam
na sociedade da época. Tanto as autoridades oficiais, como as comunidades
judaicas do Brasil reservavam um grande silêncio sobre a situação dessas
mulheres. Contudo, essas prostitutas buscaram vínculos de solidariedade que
pudessem lhes oferecer algum tipo de garantia.
Em muitos casos, essas prostitutas utilizavam o iídiche – língua
bastante utilizada pelos judeus da Europa Central e Oriental – para darem
recados entre si. Durante o seu trabalho, ao suspeitarem de que um cliente
portava algum tipo de doença venérea, elas chamavam o sujeito de “ein krenke”.
Na língua iídiche, o termo era comumente utilizado para definir a ideia de
“doença”. Naturalmente, a popularização do termo acabou ficando abrasileirada
para a nossa conhecida “encrenca”.
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