terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O Guarani *

             No mundo existe uma infinidade de lendas. Alguns temas apesar de sofrerem variações locais acabam sendo repetidos, como o do dilúvio.
 José de Alencar, pode ter se inspirado na Lenda do Dilúvio dos Tupinambás, do indígena Tamandaré para escrever a cena final de O Guarani:
 “Foi longe, bem longe dos tempos de agora. As águas caíram e começaram a cobrir toda a terra. Os homens subiram ao alto dos montes; um só ficou na várzea com sua esposa.
Era Tamandaré; forte entre fortes, sabia mais que todos. O Senhor falava-lhe de noite; e de dia ele ensinava aos filhos da tribo o que aprendia do céu.
Quando todos subiam aos montes, ele disse:
— Ficai comigo, fazei como eu, e deixai que venha a água.
Os outros não o escutaram; e foram para o alto, e deixaram-no só na várzea com sua companheira, que não o abandonou.
Tamandaré tomou sua mulher nos braços e subiu com ela ao olho da palmeira; aí esperou que a água viesse e passasse; a palmeira dava frutos que os alimentavam.
A água veio, subiu e cresceu; o sol mergulhou e surgiu uma, duas e três vezes. A terra desapareceu; a árvore desapareceu; a montanha desapareceu.
A água tocou o céu e o Senhor mandou, então, que parasse. O sol olhando só viu céu e água, entre a água e o céu, a palmeira que boiava levando Tamandaré e sua companheira.
A corrente cavou a terra; cavando a terra, arrancou a palmeira; arrancando a palmeira, subiu com ela; subiu acima do vale, acima da árvore; acima da montanha.
Todos morreram. A água tocou o céu três sóis com três noites; depois baixou; baixou até que descobriu a terra.
Quando veio o dia, Tamandaré viu que a palmeira estava plantada no meio da várzea; e ouviu a avezinha do céu, o guanumbi, que batia asas.
Desceu com a companheira, e povoou a terra!”

* O Guarani é um romance escrito por José de Alencar, desenvolvido em princípio em folhetim, de fevereiro a abril de 1857, no Correio Mercantil, para no fim desse ano, ser publicado como livro, com alterações mínimas em relação ao que fora publicado em folhetim.
A obra fez de José de Alencar um autor reconhecido. Foi republicada por diversas editoras e, atualmente, encontra-se em domínio público.
Fonte: Wikipédia

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