Os líbios compareceram neste sábado às
urnas para sua primeira eleição nacional após várias décadas de ditadura sob o
comando de Muammar Gaddafi, morto em 2011, em uma votação histórica. O pleito
contou com 60% de participação e foi marcado por um assassinato a tiros e
tentativas de sabotagem por parte de militantes do leste do país.
"Continuamos recebendo os informes
(dos colégios eleitorais), mas sabemos que a quantidade de votos alcançou 1,6
milhão, ou seja, 60% dos inscritos", declarou o presidente da Comissão
Eleitoral, Nuri al-Abar em uma coletiva de imprensa, ao apresentar os dados
preliminares.
Oito meses depois do final do conflito
armado que provocou a queda e a morte de Gaddafi, cerca de 2,7 milhões de
eleitores foram convocados para eleger os cerca de 200 membros do chamado
Congresso Nacional Geral, uma assembleia de transição na qual os islamitas
esperam ter o mesmo bom resultado que seus vizinhos de Tunísia e Egito.
Essa sessão histórica, no entanto, foi
marcada pela morte de uma pessoa --e outra ficou ferida--, quando um homem que
ainda não foi identificado abriu fogo nas proximidades de um colégio eleitoral
no leste do país, conforme informou um policial à France Presse.
O ataque aconteceu na cidade de Ajdabiya,
palco de numerosos incidentes durante os comícios.
Segundo o chefe da Comissão Eleitoral,
Nuri al-Abbar, 1,2 milhão de pessoas haviam votado até às 16h local (11h de
Brasília), ou seja, 40% do padrão eleitoral. Às 20h, os centros de votação
começaram a fechar em Trípoli e em Benghazi (leste), foco da revolução.
Ao final da tarde, 98% dos colégios
eleitorais ainda funcionavam normalmente. Pouco antes, foi anunciado que uma
centena deles, sobre um total de 1.554, não puderam abrir devido a atos de
sabotagem, principalmente no leste do país.
O vice-ministro do Interior, Omar al
Jadhraui, afirmou que as autoridades controlavam a situação na região.
Os resultados preliminares devem ser
anunciados "a partir de segunda ou terça-feira", disse a comissão.
Alguns eleitores levavam bandeiras
negras, vermelhas e verdes da revolução de 2011, enquanto que das mesquitas de
Trípoli eram emitidas mensagens sonoras dizendo frases como "Alá
Akbar" ('Deus é o maior) e nas ruas se ouviam as buzinas dos carros.
A alegria também era visível em Benghazi,
apesar dos pedidos dos federalistas para que as pessoas boicotassem as
eleições.
"Tenho a impressão de que até agora
minha vida vinha sendo desperdiçada, mas meus filhos terão uma vida melhor.
Tudo o que eles precisam é de um impulso e creio que os novos dirigentes darão
este impulso", disse Hueida Abdul Cheikh, uma mulher de 47 anos que foi
uma das primeiras a votar.
TRANSIÇÃO
Com 3.702 candidatos e mais de 100
partidos listados, é difícil fazer um prognóstico, mas três formações políticas
se destacaram durante a campanha eleitoral, que terminou na quinta-feira.
Dois deles são islamitas: o Partido da
Justiça e da Construção (PJC), um braço da Irmandade Muçulmana, e o Al-Watan,
do polêmico ex-chefe militar de Trípoli Abdelhakim Belhaj.
O terceiro grupo político de destaque é o
dos liberais, reunidos em uma coalizão lançada por Mahmud Jibril, o
ex-primeiro-ministro do CNT durante a revolta contra Gaddafi.
A repartição geográfica dos assentos da
assembleia foi muito discutida, sobretudo no leste do país, onde os partidários
do federalismo pediam mais deputados.
O Conselho Nacional de Transição decidiu
finalmente distribuir assentos de acordo com considerações demográficas, de
modo que 100 serão eleitos no oeste do país, onde há o maior número de
habitantes.
O CNT também decidiu sob pressão que o
sistema de votação da futura Assembléia Constituinte seja por maioria de dois
terços, de modo que o oeste do país não possa tomar uma decisão sem a aprovação
das outras regiões.
Mas os federalistas exigem uma
"repartição equitativa" dos assentos e ameaçam boicotar e sabotar o
processo eleitoral se suas reivindicações não forem levadas em conta. Nos
últimos dias eles inclusive saquearam centros de votação no leste da Líbia,
sobretudo na cidade de Benghazi.
Diante dessas ameaças, existem dúvidas
sobre a capacidade das autoridades de garantir a segurança das eleições, em um
país onde milícias com armas pesadas circulam impunemente.
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