sexta-feira, 6 de julho de 2012

Um dia sem mexicanos





Uma pequena comédia com premissa interessante que mostra de forma engraçada a "tragédia" que seriam os Estados Unidos sem imigrantes.
O que aconteceria à Califórnia se a população latina do lugar -- um terço da população ativa do estado -- de uma hora para outra desaparecesse? Essa premissa fantástica e curiosíssima é o mote desta simpática comédia do diretor Sergio Arau, que já tinha realizado um curta-metragem homônimo e de mesma temática, que serviu de base para esse trabalho.
O filme começa mostrando o cotidiano da população do estado americano, em uma espécie de semi-documentário, acompanhando diversos personagens (o roteiro se assemelha muito a um filme-painel, com várias situações paralelas que aos poucos vão se cruzando). Mostra um estado que tem problemas com a imigração ilegal, com a xenofobia, com o sub-emprego e até com a estereotipação -- há uma personagem na trama, americana de descendência latina, que trabalha em um jornal voltado para os hispânicos e que é obrigada por seu editor a forçar o sotaque que ela não tem para "agradar" ao seu público-alvo.
De uma hora para outra os latinos (não somente os mexicanos -- o título já vem com uma piada embutida, pois para os americanos todos os latinos são mexicanos, não importando se eles são brasileiros, porto-riquenhos ou cubanos) vão simplesmente sumindo e o estado passa a ser circundado por uma estranha névoa, como em um passe de mágica. Até mesmo os famosos, como Salma Hayek, Cheech Marin e Plácido Domingo acabam desaparecendo, para desespero dos americanos anglo-saxões. Sem os trabalhadores latinos -- quase sempre relacionados ao trabalho menor, como empregadas domésticas e trabalhadores rurais -- o estado acaba se tornando uma grande confusão, como se esses trabalhadores fossem realmente importantes para o lugar e que só então os americanos percebessem isso.
O filme trata de um assunto sério de forma bastante criativa e engraçada -- como não dar uma risadinha, nos créditos iniciais, da logomarca da Televisa, notável emissora de tevê mexicana, mais conhecida por realizar aqueles dramalhões chorosos? Inclusive há uma parte no filme em que o dramalhão toma conta, propositalmente, inclusive com aquela reviravolta típica -- quase uma novela mexicana! O filme também não deixa de fazer certas observações críticas a respeito da situação dos imigrantes, através de legendas. Mas chega uma hora em que a piada cansa e o filme se torna monótono. Não deixa de ser irritante a forma passiva como os latinos são mostrados, como se fossem pobres coitados sem personalidade -- eu o acusaria até de ser racista em certos momentos, por incrível que pareça - mas até o final feliz chegar, o espectador já deu (poucas) risadas ao som de "California Dreamin'", clássico musical do The Mamas & The Papas.

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