Diego
Hypólito caiu de novo. Dessa vez, de cara. Repetiu em Londres 2012 a falha que o
desconsagrou quatro anos antes em Pequim e foi desclassificado antes da final
nos Jogos Olímpicos.Na
saída do ginásio londrino, osolhos marejados
e a fala embargada mostraram um atordoamento impressionante do ginasta
brasileiro: “Caí de novo, decepcionei de novo. Quero pedir desculpa de novo por
esse fracasso e essa competição horrorosa. Não sei o que aconteceu comigo.
Tantas pessoas me deram apoio e me incentivaram. Cheguei aqui e caí, caí de
cara. Estou decepcionado e bravo comigo.”A entrevista dá
dimensão de quanto Hypólito se cobra na carreira, que agora já entra na reta
final (dificilmente chegará até o Rio 2016). Mas ele acaba sendo injusto
consigo mesmo ao se vender como um perdedor. Não é.Diego Hypólito
desbravou a ginástica artística masculina no Brasil, onde tínhamos zero
tradição na modalidade. Levou o ouro 17 vezes no Mundial da categoria. Em
Pequim 2008, mesmo com o erro, ficou na sexta colocação. Os futuros ginastas
olímpicos brasileiros já saberão melhor o que fazer e que erros não cometer ao
preparerem-se para uma olimpíada. Basta perguntarem a Hypólito, basta estudar
seus erros, que foram decisivos, e seus acertos, que foram muitos.A má fama de
Diego Hypólito hoje em dia faz parte de uma certa cultura brasileira que exige
ídolos fenomenais e atira pedras em quem rasteiramente julga perdedor, mesmo
que não seja. É preto ou branco, embora o mundo seja quase sempre cinza.Talvez o primeiro
grande nome dessa leva de atletas tenha sido o goleiro Moacir Barbosa, um dos
ícones do Vasco chamado de Expresso da Vitória no fim dos anos 1940. Acusado de
“frangar” no gol uruguaio que derrotou o Brasil na final da Copa de 1950, só deixou
de ser vilão quando idoso. Repetia nas entrevistas antes de morrer: “No Brasil,
a maior pena é de trinta anos, por homicídio. Eu já cumpri mais de quarenta por
um erro que não cometi.”
Mais sobre os Jogos Olímpicos:
Rubens Barrichello é um outro exemplo. Revelação do automobilismo brasileiro quando Ayrton Senna morreu, foi alçado pela tevê e grande parte da mídia ao novo Senna, coisa que ele não era — sobretudo porque foi contemporâneo e parceiro de equipe do alemão Michael Schumacher, o maior campeão da história da Fórmula 1. Barrichello foi melhor talvez que 80% dos pilotos da história. Competiu por 19 anos, recorde na modalidade, e chegou a ser vice-campeão. Não é pouca coisa. Mas a expectativa que a mídia colocou sobre ele, a de ser o novo Senna, transformou-se em frustração — em parte, por culpa dele, que vestia essa carapuça mesmo quando todo mundo sabia que não superaria Michael Schumacher. Virou sinônimo de perdedor, o que não reflete o que foi sua carreira na maior categoria do automobilismo. Hypólito entra nessa lista. Inflado pela mídia esportiva, sobretudo no rádio e na televisão, por muito tempo exigiram dele nada menos que o ouro olímpico. Queriam fazer dele o novo Gustavo Küerten. Ele teve músculos para isso, teve elasticidade, teve a técnica, só não teve os nervos, que o derrubaram duas vezes em olimpíadas. É seu ponto fraco como atleta. Acontece. Seguirá como um dos bons nomes do esporte brasileiro, um desbravador de uma categoria olímpica que no futuro tem tudo para nos render medalhas. Chamar Hipólito de perdedor é não entender absolutamente nada de esporte e, mais que isso, descontar no atleta as próprias frustrações na vida. Disponível em:
Rubens Barrichello é um outro exemplo. Revelação do automobilismo brasileiro quando Ayrton Senna morreu, foi alçado pela tevê e grande parte da mídia ao novo Senna, coisa que ele não era — sobretudo porque foi contemporâneo e parceiro de equipe do alemão Michael Schumacher, o maior campeão da história da Fórmula 1. Barrichello foi melhor talvez que 80% dos pilotos da história. Competiu por 19 anos, recorde na modalidade, e chegou a ser vice-campeão. Não é pouca coisa. Mas a expectativa que a mídia colocou sobre ele, a de ser o novo Senna, transformou-se em frustração — em parte, por culpa dele, que vestia essa carapuça mesmo quando todo mundo sabia que não superaria Michael Schumacher. Virou sinônimo de perdedor, o que não reflete o que foi sua carreira na maior categoria do automobilismo. Hypólito entra nessa lista. Inflado pela mídia esportiva, sobretudo no rádio e na televisão, por muito tempo exigiram dele nada menos que o ouro olímpico. Queriam fazer dele o novo Gustavo Küerten. Ele teve músculos para isso, teve elasticidade, teve a técnica, só não teve os nervos, que o derrubaram duas vezes em olimpíadas. É seu ponto fraco como atleta. Acontece. Seguirá como um dos bons nomes do esporte brasileiro, um desbravador de uma categoria olímpica que no futuro tem tudo para nos render medalhas. Chamar Hipólito de perdedor é não entender absolutamente nada de esporte e, mais que isso, descontar no atleta as próprias frustrações na vida. Disponível em:
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