domingo, 17 de março de 2013

Túmulos contam histórias de SP por meio de esculturas e desenhos


Um palco cinza com uma cortina verde de concreto chama a atenção em meio aos tradicionais crucifixos e mensagens religiosas espalhadas pelos túmulos do cemitério São Paulo, em Pinheiros, zona oeste. Desde meados dos anos 1950, descansam ali, no Mausoléu do Ator, 26 personalidades do meio artístico, entre comediantes, circenses e radialistas que atuaram na capital no início do século 20.
O mausoléu é apenas um entre centenas de túmulos curiosos --seja pelos detalhes incomuns que os ornamentam ou pelas suntuosas esculturas de artistas renomados que os enfeitam--, presentes nos 41 cemitérios públicos e privados da capital. Nos locais, personalidades das histórias paulistana e nacional dividem a atenção com desconhecidos que, às vezes, têm túmulos até mais interessantes que os vizinhos.
A poucos metros de onde estão enterrados os artistas, também no cemitério São Paulo, fica o Mausoléu dos Esportistas Veteranos, onde está o corpo do jogador Arthur Friedenreich, uma das primeiras estrelas do futebol paulista. O túmulo é uma celebração ao esporte e tem, além de desenhos de esportistas, uma escultura de um atleta com os músculos torneados segurando uma espécie de tocha olímpica.
A cerca de cinco quilômetros dali, o cemitério da Consolação funciona como um museu a céu aberto, com mais de 300 obras de escultores famosos como Victor Brecheret e Bruno Giorgi.
"As pessoas costumam associar cemitério com morte, mas, se formos observar esses locais pelo lado da cultura, podemos aprender muito sobre a história da cidade", diz o jornalista Douglas Nascimento, editor do site São Paulo Antiga (www.saopauloantiga.com.br ), que investiga casos curiosos da capital.
Foi com esse intuito que o Serviço Funerário do município decidiu organizar visitas monitoradas ao local, onde estão enterrados nomes como Monteiro Lobato e Mário de Andrade. É ali também que está o mausoléu da família Matarazzo, que, com uma série de esculturas, é considerado um dos maiores da América Latina.
O geógrafo e historiador Eduardo Rezende acredita, porém, que ainda falta um programa mais amplo de monitoria que englobe outros cemitérios. "O paulistano deveria fazer mais esse tipo de visita para conhecer a história da cidade", diz Rezende, que pesquisa o assunto há dez anos e já lançou oito livros sobre o tema. "Tem gente que já visitou o Père-Lachaise, em Paris, mas nunca foi até o cemitério do Araçá."
No cemitério da Quarta Parada, na zona leste, um monumento com colunas de estilo romano e uma escultura de leão deitado não chama atenção só pela imponência mas também por sua história. Ali está enterrada uma domadora que morreu em serviço. Seu nome e a data de morte são uma incógnita, já que a placa foi furtada.
Outro túmulo que atrai um grande número de visitantes é o do morador de rua Antonio Bento, mais conhecido como o santo popular Bento do Portão, no cemitério de Santo Amaro, zona sul. Conhecido por realizar milagres, ele tem sua sepultura coberta de placas de agradecimento.
"Hoje em dia quase não temos mais túmulos assim porque, além de custar muito caro, não há mais artistas especializados nesse tipo de escultura", afirma Nascimento, do São Paulo Antiga.
Não são só os enfeites dos túmulos que têm preços altos --as concessões dos terrenos também não são nada baratas. O valor do metro quadrado nos cemitérios Consolação, São Paulo, Araçá e Quarta Parada, que são os públicos mais caros, é R$ 3.662,22, segundo o Serviço Funerário. Assim, um túmulo de cerca de 5 m2 sai por quase R$ 20 mil. O valor pago, no entanto, não garante a manutenção, do espaço, cuja responsabilidade é da família.

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