Estava na
hora do almoço, não via a hora de chegar em casa. Observei um tumulto. Muitas
pessoas e o trem ligado, parado. Cheguei mais perto e observei uma mão e um pé
caídos no trilho. Havia alguém embaixo do guarda-pó branco que uma professora
colocou no chão.
Era
um menino que ia de bicicleta para a escola. Lembro que ele ia de bicicleta,
pois não era todo mundo que tinha. Ficou lá o dia todo, próximo a entrada
da Vila Grécia.
O
IML demorou para chegar. Todos em
volta. Professores , crianças, curiosos. Mais tarde chegou a
mãe daquele menino. Somente perto do anoitecer recolheram o corpo. A Estrada de
Ferro já tirou a vida de muitas pessoas.
Depois de
ter visto aquela cena fiquei com a imagem na cabeça. Não conseguia mais passar
em frente ao local. Como não passar se tinha que ir para aula todos os dias? Chorava e tremia de
medo. Então minha mãe arrumou a solução: ir na Dona Maria Preta para benzer.
Fomos
a tarde, pois era o horário indicado. Dona Maria com sua fala mineira perguntou
o estava “acucedendo” com a menina. Depois do relato da história ela foi lá no
terreiro tirou uns galinhos, pegou uma água molhou, benzeu, molhou benzeu,
fazendo o sinal da cruz e determinou que eu fosse durante uma semana toda tarde
rezar pelo menino no local do acontecido e acender uma vela.
Por
determinação da Dona Maria minha mãe me arrastou e me obrigou a rezar e acender
a vela. Fui. A oração era para o "anjinho da guarda" do menino...
Depois
de uma semana já passava tranqüila pelo lugar. Porém, me recordo como se
tivesse acontecido agora.
“Dona
Maria Preta”... benzedeira
Maria Alzira
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